Pelo menos 20 dos 28 ministros da Agricultura da União Europeia (UE) aumentaram a pressão sobre a Comissão Europeia, braço executivo da UE, para evitar uma maior abertura do mercado comunitário para carne bovina e outros produtos considerados sensíveis originários do Mercosul nas negociações que serão retomadas em maio.
Depois de reunião realizada em Amsterdã, Phil Hogan, comissário de Agricultura da UE e originário da Irlanda, um dos países que mais se opõem a um acordo de livre com o Mercosul, disse que a maioria dos ministros é a favor de um acordo com o bloco sul-americano, mas que esses produtos “sensíveis” são motivo de preocupação. Estão nessa lista as carnes bovina e suína e o açúcar, entre outros produtos com os quais os europeus sabem que não têm condições de concorrer com o Mercosul.
A poderosa central sindical agrícola Copa-Cogeca divulgou um comunicado comemorando as “sérias preocupações” expressas pelos ministros da Agricultura da UE sobre a situação precária da agricultura no mercado comunitário e sobre qualquer tentativa da UE para piorar a situação ao negociar concessões comerciais injustas sobre a agricultura nas negociações de livre comércio com o Mercosul.
Para a entidade, a agricultura europeia pode sofrer perdas de mais de € 7 bilhões (R$ 29 bilhões) no caso do estabelecimento de um acordo de livre comércio entre UE e Mercosul. A central afirma que um acordo de liberalização com o Mercosul é a última coisa que a UE necessita no contexto atual. A Copa-Cogeca observa que o Mercosul já é o maior exportador de commodities agrícolas para a UE. O bloco, segundo a central sindical, é a origem, por exemplo, de 86% da carne bovina e de 70% da carne de frango importadas pelos europeus.
A entidade insiste que Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai não precisam de cotas adicionais, com tarifas menores, para aumentar seu comércio com a UE “especialmente quando muito pouco de nossa carne bovina é autorizada a entrar em seus mercados”.
Como sempre, os produtores europeus acusam o Mercosul de não respeitar os padrões ambientais e de qualidade europeus e dizem que há preocupações sobre a segurança sanitária da produção de carnes, inclusive em questões ligadas à rastreabilidade.
Na sexta-feira, UE e Mercosul anunciaram que vão trocar ofertas de liberalização na segunda semana de maio, na expectativa de fechar um acordo birregional. A negociação prevê um aprofundamento da abertura recíproca a bens e serviços, além de compras governamentais.
A comissária de Comércio da UE, Cecilia Malmstrom, é a responsável pela negociação com o Mercosul. Seu porta-voz, Daniel Rosário, disse ontem ao Valor que a proposta de oferta europeia não é a final, e que ainda haverá discussões. “A Comissão Europeia acredita que apresentará uma oferta equilibrada, ambiciosa e benéfica para a UE e para o Mercosul, levando em conta as sensibilidades europeias.”
Parece óbvio que não haverá uma liberalização total para a entrada de mais carne bovina do Mercosul no mercado europeu. Ocorre que a atual pressão de produtores e de diversos países da UE é para não haja sequer cota adicional (limite quantitativo, mas com tarifa menor).
Na reunião de ministros da Agricultura da UE houve reclamação generalizada sobre as dificuldades dos produtores europeus de suínos e também com a forte queda dos preços de lácteos.
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