Estudos apontam crescimento de tumores nos pulmões, mamas e cérebro, afirma o oncologista Daniel Musse, da Oncologia D’Or.
Por Nora Ferreira
O aquecimento global está mudando os padrões do clima e prejudicando o equilíbrio do meio ambiente, provocando o derretimento das geleiras, a elevação do nível do mar, longas estiagens e a ocorrência de desastres naturais como inundações, incêndios florestais e furacões. Ao afetar a natureza, as mudanças climáticas estão aumentando o risco do surgimento de câncer de mama, pulmão e cérebro.
Paralelamente, os desastres naturais podem prejudicar a estrutura dos centros oncológicos e impedir o acesso dos pacientes ao tratamento, levando ao agravamento da doença. “Nas enchentes do Rio Grande do Sul, várias entidades se mobilizaram para dar suporte aos pacientes e possibilitar a continuidade de tratamentos que devem ser feitos diariamente, como a radioterapia”, lembrou o oncologista Daniel Musse, da Oncologia D’Or.
Eventos climáticos extremos afetam a produção mundial de alimentos, dificultando a oferta de alimentos frescos e mais nutritivos. As principais agências regulatórias do mundo estão preocupadas com o crescimento do consumo de alimentos com altos níveis de conservantes, o que aumentam o risco de câncer.
Poluição e câncer
Ao destruir a vegetação, incêndios florestais e queimadas provocam o aumento da poluição atmosférica e o risco de câncer de pulmão, cérebro e mama. Um estudo anglo-americano1 mostrou que a poluição do ar causa cerca de 14% dos casos de câncer de pulmão em todo o mundo.
A relação entre a incidência e mortalidade por câncer, entre 1996 e 2015, em cidades a 50 quilômetros dos locais, onde ocorrem os incêndios florestais de forma recorrente, foi objeto de estudo de pesquisadores canadenses2. A análise apontou que, nos últimos dez anos, o número de casos de câncer de cérebro foi 10% maior na população exposta a esses incêndios comparada à das pessoas que vivem em outras regiões do Canadá. A incidência de câncer de pulmão foi 4,9% superior nos moradores de cidades próximas aos incêndios em relação à média nacional.
Mas os efeitos da má qualidade do ar não se restringem aos cânceres de pulmão e cérebro. Um estudo francês3 apresentado em 2023 no Congresso Europeu de Oncologia Médica (ESMO) comparou a exposição à poluição residencial à do local de trabalho de 2.419 mulheres com o diagnóstico de câncer de mama com 2.984 mulheres sem o histórico da doença entre 1990-2011. Os resultados mostraram que o risco de câncer de mama foi 28% maior em locais que apresentavam níveis de 10 μg/m3 mais elevados de partículas finas. Mulheres expostas a partículas maiores apresentaram riscos menores à doença.
Câncer de pele
A redução da camada de ozônio e o aumento da incidência dos raios ultravioletas é outra mudança climática que contribui para o surgimento de câncer, desta vez, na pele. Pesquisadores da Universidade de Oxford e do Wexham Park Hospital4, no Reino Unido, comprovaram que casos de câncer não-melanoma crescem em 5% a cada grau Celsius a mais de temperatura.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT)5 já revelou sua preocupação com o impacto das mudanças climáticas sobre a saúde de 20 milhões de brasileiros que trabalham expostos ao calor excessivo e ao sol, principalmente na limpeza urbana, na agropecuária e nos transportes.
Enquanto as altas temperaturas favorecem a proliferação da dengue e outras doenças causadas por vetores, a exposição prolongada à radiação ultravioleta eleva o risco do surgimento de câncer de pele.
Segundo a OIT, essas categorias profissionais devem passar por adaptações nas condições de trabalho, como o uso de equipamentos de proteção apropriados e jornadas de trabalho que não coincidam com os picos de calor e radiação solar.
Referências
- Vohra K, Vodonos A, Schwartz J, et al Global mortality from outdoor fine particle pollution generated by fossil fuel combustion: Results from GEOS-Chem.. Environ Res 195:110754, 2021. Disponível em Link
- Korsiak, J ∙ Pinault, L ∙ Christidis, T ∙ et al. Long-term wildfire exposure and cancer incidence in Canada: a population-based observational cohort study. Lancet Planeta Saúde. 2022; 6 :e400-e409. Disponível em Link
- Fevers ,B et al. Long-term residential and workplace exposure to air pollution and breast cancer risk: A nested case-control study in the French E3N cohort from 1990 to 2011. ESMO 2023. Disponível em Link
- AK Bharath et al.Impact of climate change on skin câncer.J R Soc Med. 2009 Jun 1;102(6):215–218. doi: 10.1258/jrsm.2009.080261
- ONU News -Perspectiva Global – Calor excessivo aumenta casos de dengue e câncer em trabalhadores brasileiros. Disponível em Link
Sobre a Oncologia D’Or
Criada em 2011, a Oncologia D’Or é o projeto de oncologia da Rede D’Or formada por clínicas especializadas no diagnóstico e tratamento oncológico e hematológico, com padrão de qualidade internacional e que, atualmente, está presente em onze estados brasileiros e Distrito Federal. O trabalho da Oncologia D’Or tem por objetivo proporcionar, não apenas serviços integrados e assistência ao paciente com câncer com elevados padrões de excelência médica, mas um ambiente de suporte humanizado e acolhimento. A área de atuação da Oncologia D’Or conta com uma rede de mais de 55 clínicas, tem em seu corpo clínico mais de 500 médicos especialistas nas áreas de oncologia, radioterapia e hematologia e equipes multidisciplinares que trabalham em estreita parceria com o corpo clínico da maioria dos mais de 75 hospitais da Rede D’Or. Além disso, a presença das clínicas da Oncologia D’Or em mais de 20 hospitais da Rede, abrange a área de atuação em toda a linha de cuidados, seguindo os moldes mais avançados de assistência integrada, proporcionando maior agilidade no diagnóstico, mais conforto e eficiência para o tratamento completo dos pacientes.