Inúmeras experiências científicas validadas, já confirmaram que o ser humano depende do vínculo social com o seu semelhante para o seu desenvolvimento psicoafetivo, e a edificação de sua identidade.
O “Outro” – sujeito de meus encontros – é que homologa o meu ser, ontologicamente, falando. Pessoas impedidas de um contato social ficam atrofiadas em sua humanização. As suas faculdades mentais ficam lentificadas e suas emoções atuam num nível muito primitivo.
Em síntese, as características humanas dependem, basicamente, do vínculo interpessoal, do convívio social para seu desenvolvimento, evolução, integridade e equilíbrio. Somos seres sociais – animais políticos e racionais.
A vida em sociedade propicia, através das práticas sociais, das interações interpessoais, dos protocolos culturais, a elevação da consciência, a leitura do Real e o desenvolvimento de nossas potencialidades individuais.
Um contexto existencial, empobrecido de conteúdos “anímicos”, impede a emersão de um campo simbólico – alicerçado e constituído pela Cultura – pelas relações sociais – e mediado por um código de comunicação – a língua – elementos esses que projetam um sistema de representações — signos — no qual as palavras nomeiam os objetos, as pessoas, os fenômenos, configurando, uma realidade significante, a fim de encontrar significação “para si mesmo” – para o “mundo dos sentidos”; perceptíveis, através dos conteúdos sensoriais, afetivos, psíquicos e cognitivos.
Vale dizer, que enquanto não encontra seu “próprio” sentido, resta ao indivíduo, corresponder ao sentido que lhe dão – ao lugar que recebe e que está no “imaginário” das pessoas, à sua volta. E se não ocupar este lugar não haverá, definitivamente, referência alguma para ele. “Não alcança o status do Desejo… Não gera demanda” (LACAN, 1964).
O indivíduo ao não poder vincular-se ao Outro, é abortado a sua existência simbólica… O significante produzindo-se no Campo do Outro, faz surgir o sujeito de sua significação (LACAN, p.197).
O indivíduo para poder falar de si mesmo – por si mesmo — tendo o Eu como o sujeito da fala, primeiramente, a linguagem deve habitá-lo, marcá-lo, através das palavras que o significam como sujeito e o simbolizam como o próprio autor da concretude de seu Ser: animal metafísico que transcende a esfera natural, ultrapassando-a com o advento da Cultura.
Por outro lado, sem a construção de uma memória afetiva, alimentada pelas vivências de sua existência, o indivíduo fica destituído de sua História, de sua origem – sem porvir – e subsequentemente, com sua subjetividade abortada.
Vale lembrar que o humano se constitui a partir do encontro entre um organismo e a Linguagem que tem uma função “ortopédica”.
A Psicologia Social e a Antropologia, cada qual em seu viés teórico e experimental, possuem modelos teóricos de explicação para a existência.
As visões psicológicas e antropológicas, não se repelem e nem se excluem. Elas se agregam. A sociedade fixa padrões de comportamentos para todos – e na outra vertente, as condições psíquicas e neuronais, também, determinam comportamentos…
Reinaldo Müller é professor da rede pública. Educador de crianças com necessidades especiais: patologias genéticas, cromossômicas, físicas, neurológicas, psiquiátricas. Mentor e Facilitador em Psicopatologia da Infância. É um intelectual que escreve poemas, prosas e crônicas. Sua produção textual inclui também artigos científicos, opinativos, papers, resenhas, críticas literárias. Articulista, colunista, cronista. Escreve, também, sobre Educação – Gestão – Marketing – Vendas – Psicologia – Psicanálise – Psicopatologia (criou a célebre trilogia “Caminhos da Psicopatologia” premiada no meio acadêmico). Colunista especial do Portal Educação.